Bom mesmo de fazer revolução nestes tempos de twitter – com a realidade em prolongado estado de abstração – é que a gente pode defender a causa pública sentada numa confortável poltrona, bebendo vinho e ouvindo Lady Gaga.
Se isso tem algum resultado no mundo fora da internet eu não sei. Mas me faz sentir idiotamente politizada e na vibe da ação coletiva...
Será que este monte de tags individuais formam um todo? Será que mudam algo? Será que fortalecem a capacidade de ação fora da internet?
O vinho acabou, os followers foram dormir... E amanhã eu tenho que terminar um artigo que fala de Competência Interacional em língua estrangeira. Então, vou dormir! A revolução fica para depois.
Oprimidos, durmam! Opressores, durmam também...
quinta-feira, 14 de abril de 2011
sexta-feira, 8 de abril de 2011
Espectador: deleite com a dor dos outros
- Mãe, o que aconteceu nessa escola?
- Um maluco entrou lá e matou um monte de gente, de alunos. E depois se matou.
- Por quê?
- Porque era maluco. E um maluco que pode comprar arma é um maluco muito louco. E perigoso.
O diálogo entre mim e meu filhote, que tem 8 anos, é interrompido pelas imagens de jovens fugindo da escola com o uniforme ensangüentado, chorando, gritando.
- Ele matou porque não gostava dos alunos, ou porque não gostava da escola?
- Filho, ele tinha problemas. Problema na cabeça. Por enquanto ninguém sabe de quem ele não gostava. Talvez ele não gostasse dele mesmo.
- Por isso que ele se matou, né?
- Pois é. Não sei.
A próxima reportagem faz um retrospecto de alguns crimes cometidos em escolas.
- Por que matam a gente na escola?
- Quem disse que matam a gente na escola? Isso que aconteceu nessa escola nunca tinha acontecido antes no Brasil. Não tem que ter medo. Isso é até meio comum nos EUA, mas no Brasil não. Esquece isso! É que a TV, como não tem notícia pra apresentar, fica passando a mesma coisa. Vamos mudar de canal!
No dia seguinte, no mesmo horário, ligo a TV e... sou interrompida por um:
- Mãe, olha a manobra que eu inventei com o Tech Deck [skate de dedo].
- Peraí! Deixa eu ver esta notícia.
A notícia? O velório e enterro dos alunos da escola de Realengo. Familiares chorando e falando de seu sofrimento.
- Mãe, por que você fica aí vendo essas pessoas chorando?
- Deixa eu ouvir, filho! – em tom imperativo.
No intervalo:
- Por que você gosta de ficar vendo gente chorando?
- Eu não gosto de ficar vendo gente chorando - fiquei com vergonha de dizer a verdade.
- Então, por que tá olhando isso? Se você gosta de ver gente chorando, por que não filmou você mesma quando seu pai morreu? Você chorou como eles [as pessoas da TV]. Daí você podia ficar vendo você mesma chorando.
Pois é... As imagens da realidade, quando viram imagens na TV, transfiguram a dor dos outros? Ou temos alguma espécie de deleite, como espectadores, ao assistir a dor alheia na TV? Será que temos habilidade para diferenciar, cognitiva e emocionalmente, realidade e ficção na TV? Filmes "baseados em fatos reais" são mais emocionantes?
- Um maluco entrou lá e matou um monte de gente, de alunos. E depois se matou.
- Por quê?
- Porque era maluco. E um maluco que pode comprar arma é um maluco muito louco. E perigoso.
O diálogo entre mim e meu filhote, que tem 8 anos, é interrompido pelas imagens de jovens fugindo da escola com o uniforme ensangüentado, chorando, gritando.
- Ele matou porque não gostava dos alunos, ou porque não gostava da escola?
- Filho, ele tinha problemas. Problema na cabeça. Por enquanto ninguém sabe de quem ele não gostava. Talvez ele não gostasse dele mesmo.
- Por isso que ele se matou, né?
- Pois é. Não sei.
A próxima reportagem faz um retrospecto de alguns crimes cometidos em escolas.
- Por que matam a gente na escola?
- Quem disse que matam a gente na escola? Isso que aconteceu nessa escola nunca tinha acontecido antes no Brasil. Não tem que ter medo. Isso é até meio comum nos EUA, mas no Brasil não. Esquece isso! É que a TV, como não tem notícia pra apresentar, fica passando a mesma coisa. Vamos mudar de canal!
No dia seguinte, no mesmo horário, ligo a TV e... sou interrompida por um:
- Mãe, olha a manobra que eu inventei com o Tech Deck [skate de dedo].
- Peraí! Deixa eu ver esta notícia.
A notícia? O velório e enterro dos alunos da escola de Realengo. Familiares chorando e falando de seu sofrimento.
- Mãe, por que você fica aí vendo essas pessoas chorando?
- Deixa eu ouvir, filho! – em tom imperativo.
No intervalo:
- Por que você gosta de ficar vendo gente chorando?
- Eu não gosto de ficar vendo gente chorando - fiquei com vergonha de dizer a verdade.
- Então, por que tá olhando isso? Se você gosta de ver gente chorando, por que não filmou você mesma quando seu pai morreu? Você chorou como eles [as pessoas da TV]. Daí você podia ficar vendo você mesma chorando.
Pois é... As imagens da realidade, quando viram imagens na TV, transfiguram a dor dos outros? Ou temos alguma espécie de deleite, como espectadores, ao assistir a dor alheia na TV? Será que temos habilidade para diferenciar, cognitiva e emocionalmente, realidade e ficção na TV? Filmes "baseados em fatos reais" são mais emocionantes?
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