segunda-feira, 28 de junho de 2010

identidade do futebol brasileiro

Em linhas gerais:
Em teorias sociais do discurso, uma das áreas dos estudos da linguagem, defende-se que não temos uma identidade essencial, ou seja, não nascemos de determinado “jeito” e continuamos sendo a mesma pessoa o resto da vida. Defende-se que a identidade é construída nas interações sociais com o(s) outro(s), o que explica a forma diferente com que cada um de nós se relaciona dependendo do contexto de interação. No futebol, pelo que percebo, há uma essência da identidade do futebol, ou, pelo menos, tenta-se essencializar [congelar, mumificar] alguma identidade. Não importa o contexto [adversários, histórico de partidas, jogadores, técnico etc.] em que a partida ocorra, há sempre apenas UM futebol bom e só. O Brasil pode vencer, mas não convence. O Brasil pode vencer, mas não joga o verdadeiro futebol brasileiro.

Se o objetivo do futebol é vencer, é fazer mais gols que o adversário, não seria coerente dizer que aquele que venceu jogou melhor do que o adversário? Se a partida depende da interação da equipe com o contexto... se ela venceu - se, na interação em campo, derrotou o adversário - jogou o verdadeiro futebol brasileiro. Não??? É uma pergunta de leiga, ok?!

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Os belos e os malditos

A TV define o belo, o engraçado, o ridículo... Os dois vídeos abaixo, veiculados pela SporTV, mostram bem quem é belo e quem não é. Dêem uma olhadina! Aliás, não só uma olhadinha, mas também uma "ouvidinha", pois as próprias músicas escolhidas como trilha sonora para cada grupo evidenciam bastante a classificação feita. Lembrem-se: o país que está sediando a Copa é a África do Sul e que, segundo o que dizem, a Copa é um evento que reune gente do mundo todo.

Para quem não sabe, a música do segundo vídeo faz parte da trilha sonora do filme Madagascar e a personagem que canta é um lêmure [acho que é uma espécie de macaquinho]. Será que houve alguma tentativa de associação?

Ah! e para quem não viu a notícia: na semana passada, o tenista brasileiro Júlio Silva foi vítima de racismo num campeonato de tênis na Itália.


Tudo pode mudar no mundo, só não o futebol brasileiro

O tamanho da bermuda dos jogadores mudou, o uniforme mudou, as chuteiras mudaram;
O uniforme dos trios de arbitragem mudou;
A idade dos jogadores mudou [são muito mais novos hoje do que eram os jogadores da seleção de 1970, por exemplo];
As máquinas fotográficas dos fotógrafos mudaram;
As marcas de produtos anunciadas nos “alambrados” [sei lá se esse é o nome daquilo] mudaram;
A forma de anunciar essas marcas mudou;
A torcida mudou, o jeito de torcer mudou;
A bola mudou;
O mundo mudou!

Só o futebol brasileiro não pode mudar!!!!
Por que? Não sei. Esta é uma pergunta que temos que fazer para os comentaristas brasileiros de futebol. Eu só sei dizer que sempre ouço as mesmas coisas: o Brasil ganhou mas não convenceu. Classificou, mas este não é o verdadeiro futebol brasileiro. Será que nunca mais veremos o Brasil jogar como o Brasil? Cadê o futebol-arte?

Então eu só posso concluir que o futebol brasileiro é feito de uma essência que não deveria mudar. Se mudar, deixa de ser o futebol brasileiro.

Por outro lado, esses mesmos comentaristas, quando se referem às seleções de outros países, afirmam que “o futebol dos EUA [ou de qualquer outro país] tem evoluído muito”. Ou seja, os outros evoluem, nós só regredimos, pioramos...

Será que a seleção era tão superior, em 1970, que, num impulso de solidariedade, resolveu piorar até chegar ao nível de seus adversários – que, mesmo “evoluindo”, tem muito trabalho para nos derrotar?

Ou será que esses comentaristas fazem parte daquele grupinho que tem como objetivo sustentar uma auto-estima baixa dos brasileiros? Estou falando daquele grupo que vive achando que tudo, no Brasil, está sempre pior, e que tudo, em outros países [determinados países, claro!], está sempre melhor.

Ou é o quê, hein?! Se alguém puder me ajudar a compreender isso, eu agradeço!!!

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Comentários comentados [2]

A Karina comentou que “quem não é gaúcho, mas nasceu infelizmente no Brasil, não tem orgulho pelo seu PAÍS; resolve torcer para outros times, até apostando que serão campeões, a Argentina, Inglaterra, Portugal, Espanha...etc. E seu PAIS de origem não recebe a sua FORÇA, o seu APOIO, RESPEITO ou CONSIDERAÇÃO”

Eu tenho opinião diferente sobre esta questão. O que eu percebo são dois grupos bem distintos: (1) brasileiros [de todas as regiões] torcendo e apostando na seleção brasileira; (2) comentaristas e jornalistas torcendo ferrenhamente contra [pelamoordedeus! não só contra o futebol, mas contra tudo o que possa elevar a auto-estima do brasileiro].

Certamente há grupos de brasileiros que torcem por outras seleções, em função de seus antepassados, mas nem por isso deixam de torcer pela seleção do Brasil – exceto em Blumenau. No dia de um jogo da Alemanha, um brasileiro de Blumenau disse algo assim “vou torcer pela Alemanha porque o Dunga não quis levar pra Copa quem era bom. Só levou quem não joga. Então aqui estamos torcendo por quem sabe jogar: a Alemanha.” Mas em nenhum lugar mais eu vi depoimentos como esse.

Vejamos o que diz a enquete da UOL em relação à polêmica Dunga x Globo.

Comentários comentados [1]

Vou comentar alguns comentários que o blog recebeu:

O Antony começa um de seus comentários dizendo que concorda “plenamente” comigo e que “deveriam ter tido mais cuidado [referindo-se a programas que tratem da beleza na Copa] para não ferir suscetibilidades”.

Uma das acepções da palavra suscetibilidade, de acordo com o Dicionário Houaiss, é: a “disposição ou tendência para se ofender e se ressentir com (algo, geralmente sem importância). Pela escolha lexical do nosso amigo Antony, a gente já pode antecipar o quanto ele realmente “concorda plenamente” comigo, né?
E minha opinião, selecionar quem é bonito(a) “o suficiente” para merecer aparecer na televisão como símbolo de beleza terminantemente não é uma questão de “suscetibilidades”. Trata-se de uma questão de exclusão simbólica de um grupo [que não é o grupo das loiras e loiros, claro!]. Se não aparece nenhum negro no meio de tanta gente, num evento que ocorre na África, só nos “resta” concluir que não há negros bonitos. Pelo menos lá não! Pelamoordedeus!!!

Adotar a perspectiva da inclusão/exclusão simbólica já me faz ter que discordar plenamente de você, caro Antony, pois, nessa perspectiva, aparecer na televisão não é uma questão de ser colocado em evidência e ser escolhido ideologicamente como símbolo de algo. Vale lembrar que esse “algo” é uma criação. Não há nada de natural, apesar de ser ideologicamente consensual, em ser bonito o suficiente para aparecer na telinha. Politicamente correto não é criar um time artificial de “moças bonitas”. Politicamente correto é aceitar que essa criação por si só é artificial, é ter consciência que as pessoas que ali aparecem representam grupos bem definidos e perceber que estar na telinha é ter poder, é ter algumas de suas "características" legitimadas. Pelamoordedeus, hipocrisia é se permitir pensar que essa seleção de mulheres e homens lindos serve apenas para agradar e corresponder ao "gosto natural" das pessoas.

Antony diz acreditar “que a seleção realizada é mais próxima da realidade dos gostos, se não confessados, pelo menos professados, pela maioria da população brasileira” Antony só não diz, e nem eu esperaria que o fizesse, que “a realidade dos gostos” é uma realidade cultural, histórica, social e ideologicamente criada e sustentada, em nossa sociedade, principalmente pela TV. E, para finalizar seu comentário “plenamente concordante” comigo, ele me pede “paciência...” Paciência, meu caro, é o que eu menos tenho com este tipo de pensamento e reação [ou seja, o cara diz concordar que a seleção de beldades foi tendenciosa e pouco cuidadosa, mas, por outro lado, não dá para fazer nada, já que o gosto natural das pessoas é esse mesmo.] Paciência??? Paciência peço eu!!!!!!

Tenho que confessar que para uma coisa o comentário do nosso grande amigo e plenamente concordante Antony me serviu: analisar didaticamente, com meus alunos, os modos de operação da ideologia no discurso de pessoas que parecem concordar plenamente, mas... finalizam o enunciado suplicando por paciência. Mooorro de dó!!!!!

Gente, lembrem-se que eu não sou [ou ainda não sou] uma florzinha sensível, meiga e paciente... Eu sou a Marcia, aquela grosseira e metida e mandona. [sintam-se livres para acrescentar outros adjetivos, ok? - óbvio que não serão publicados... hahaha]

terça-feira, 22 de junho de 2010

Globo – plim-plim de educação e delicadeza / Dunga – pum de grosseria e falta de educação

Segundo a grande mídia, Dunga xingou jornalista da Globo e demonstrou, mais uma vez, despreparo e falta de educação [e mais um monte de coisas muito terríveis]. Tem gente contra e tem gente a favor. Mas o que será que está por trás destes palavrões [ou palavrinhos?] que o técnico da seleção brasileira dirigiu a um jornalista da Globo? O texto abaixo traz algumas informações úteis, veiculadas pela UOL, para que entendamos um pouquinho desta história.

Por trás do incidente entre Dunga e o jornalista Alex Escobar, da Rede Globo, durante a entrevista coletiva no Soccer City, esconde-se uma história [ou é escondida?] que diz respeito à perda de privilégios que a Rede Globo sempre teve em relação à seleção brasileira, privilégios aos quais Dunga se opõe.
Segundo o UOL Esporte, a Globo negociou diretamente com Ricardo Teixeira, presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), entrevistas exclusivas – que seriam exibidas no Fantástico do dia 20-06 – com três jogadores da seleção, entre os quais Luis Fabiano. Essas entrevistas, entretanto, foram vetadas por Dunga.

Durante a entrevista coletiva com o técnico da seleção brasileira, Alex Escobar informava ao seu coleguinha Tadeu Schmidt, por telefone, que Dunga não autorizara as tais entrevistas. Dunga, percebendo o ar de reprovação da conversa que o jornalista da Globo mantinha por telefone, perguntou: "Algum problema?" Escobar respondeu: "Nem estou olhando para você, Dunga". “Ah bom! Achei que tivesse algum problema.” E replicou, em voz baixa, o suficiente para ser captado pelo microfone à sua frente: "Besta, burro, cagão!" Acho que ele disse também alguma coisa como “tu é um merda”.

Diversos jornalistas que estavam na sala de entrevistas ouviram Escobar desabafar ao telefone com o coleguinha: "Insuportável, bicho, insuportável. O Rodrigo (Paiva) [diretor de comunicação da CBF] foi revoltado lá falar comigo, cara. O Dunga não deixou. [Tadeu Schmidt]".

Horas depois do incidente, durante o "Fantástico", Schmidt falou: "O técnico Dunga não apresenta, nas entrevistas, comportamento compatível de alguém tão vitorioso no esporte. Com frequência, usa frases grosseiras e irônicas". O jornalista da Globo não mencionou, no entanto, o motivo do atrito: a recusa do técnico em aceitar um acordo feito entre o presidente da CBF e a emissora. Não mencionou também os xingamentos de seu colega Alex Escobar. Não mencionou também a falta de educação de seu colega em estar falando ao celular durante uma entrevista coletiva.

Ah! não mencionou também que a imprensa brasileira, e a Rede Globo encabeça a fila, SEMPRE tratou o Dunga como um “besta, burro”, responsável pela decadência do futebol brasileiro [decadência que até hoje eu não vi se operacionalizar]. Estas “análises” que a imprensa sempre fez de Dunga, quando era jogador e agora como técnico, não são faltas de educação? Não são grosserias?

A imprensa considerou “cagão” um xingamento gravíssimo, um comportamento inadequado para um técnico. Por outro lado, encara [e quer que encaremos] como éticas e educadas as “análises” medíocres e altamente pejorativas que lança todos os dias à nossa frente e as negociatas que tenta fazer para conseguir animar um pouco seu IBOPE. O que a imprensa considera “comportamento adequado” não pode, porém, ser aceito como o que de fato é adequado.

Aceitar esta visão da mídia ou é ingenuidade ou é hipocrisia. O uso de palavrões não define quem tem e quem não tem ética, educação, responsabilidade com o que diz, com o que faz e com o que representa. Aliás “cagão”, no Rio Grande do Sul, estado onde Dunga nasceu e foi criado – e onde deve ter aprendido a chamar de cagão quem não tem coragem de assumir o que diz ou faz – nem é palavrão, é um palavrinho infantil e bobinho, usado por crianças. É xingamento de quem não conhece adjetivos com grau de pejoratividade mais forte. Cagão? Pelamoordedeus, Dunga, dava para ter dito coisas muito mais eficientes.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Is Black beautiful??? Não para o SporTV!

A reportagem era sobre a beleza na Copa da África. Beleza no sentido de homem bonito e mulher bonita [assim mesmo, no singular!] E qual foi a surpresa? Nenhuma!!! Só foram selecionados branquinhos e branquinhas, a maioria de olhos claros e cabelos loirinhos, loirinhos... Coisa linda de se ver!
Gostaria de entender “os motivos” que levam editores de programas como este da SporTV, exibido no dia 21-06, por volta de 22h30, a selecionarem, num país africano, apenas 2 negros bonitos - 1 jogador e 1 torcedora – como símbolos de beleza. Não é esquisito que o programa tenha mostrado praticamente só jogadores loiros e torcedoras brancas como símbolos de beleza numa Copa na África? Talvez porque não haja negros no Brasil. Tampouco em nossa seleção. Aliás, o único brasileiro selecionado foi, coerentemente com a reportagem, o Kaká.
Ah! é possível que os editores e jornalistas tenham lido o bacana livrinho do Ali Kamel, cujo título mais bacana ainda é Não somos racistas: uma reação aos que querem nos transformar numa nação bicolor. Pelamordedeus!!!! O cara entende tuuudo de raça, racismo e reação.

André Rizek

Eu caio de costas até o fim do mundo cada vez que assisto aos programas dos comentaristas de futebol. Hoje foi aquele tal de André Rizek. Ao analisar a entrevista do Maradona, que ria e fazia piadas, o sábio comentarista Rizek fez um comentário mais ou menos assim "o Maradona tem sido o grande personagem desta Copa. Ele traz o verdadeiro espírito do futebol. As coletivas dele são divertidas blá-blá-blá. Futebol é diversão, é alegria. O Dunga não entendeu isso."

Ôoo Rizek, tenha dó!!! A gente sabe muito bem o que acontece quando a seleção brasileira de futebol perde uma partida. A imprensa NÃO brinca em "serviço". Daí o futebol deixa de ser diversão, alegria, né? E mais, "comentarista", se é alegria para uns, como é o meu caso, não o é para outros, como é o caso de Dunga e de toda sua equipe.

Imaginemos a seguinte cena: o time do Brasil perde todas as partidas e os repórteres, jornalistas e essas coisinhas chamadas comentaristas dando risada e se divertindo adoidados dizendo "gente, que legal, a gente perdeu KKK. Até perder foi divertido. Que alegria! O Dunga é um cara muito ótimo. E futebol é isso: alegria e diversão, na vitória e na derrota, na riqueza e na pobreza, na doença etc." Sabe qual é a possibilidade de isso acontecer? ZERO!!!!!! Zero a zero!!!!!!

Então, Rizek, meu caro entendedor de futebol, pelamoordedeus, deixa de tentar parecer ingênuo [ou boboca] com esse papo-furado de "futebol é alegria e diversão e, por isso, não há lugar para o mau humor do Dunga".