domingo, 7 de novembro de 2010

Ingenuidades na discussão sobre o racismo [4]

Tenho ouvido e lido comentários variadíssimos sobre a suposta onda de racismo instigada pela campanha eleitoral do PSDB do José Serra. Quero falar brevemente – sempre a mesma inatingível proposta da brevidade! – sobre alguns comentários que considero, na qualificação mais elegante, ingênuos.

Os negros brasileiros são lindos, mas acho que devem buscar o seu desenvolvimento e parar de culpar os outros.”

Nem sei se tenho estrutura emocional para comentar este comentário... Respira fundo e... vai com fé! Bom, primeiro, a estética não está na origem do racismo. Até porque o conceito de belo é uma construção social, cultural e histórica. Segundo, o que está na base do racismo e na inferiorização de determinados grupos humanos é grana, bufunfa! Só e sempre ela! Não passa de ingenuidade pensar que os preconceitos raciais, étnicos, religiosos, de opção sexual etc. são conflitos cuja origem é raça, cor, etnia, religião, etc. Não é! O dinheiro, gente, é o inabalável e inconfessável argumento para todos esses preconceitos.
O que vem antes do “mas acho que devem buscar o seu desenvolvimento e parar de culpar os outros” nada mais é do que uma estratégia linguística de negação do racismo, aliás muito bem documentada por van Dijk. O racismo desta pessoa é evidenciado de forma muito clara ao dizer que os negros não buscam seu desenvolvimento e culpam os outros [os brancos, né? Que estão sempre buscando seu desenvolvimento] por sua falta de vontade de se desenvolver. Considerar que a exclusão a bens e serviços de determinados grupos é fruto da falta de vontade desse grupo é um discurso racista tão clássico e nem vai tomar meu tempo agora. E eximir-se da responsabilidade pela exclusão de outros grupos é também um clássico. E clássico é clássico. E vice-versa! [Se não foi Vicente Matheus, foi um jogador de futebol cujo nome não lembro]

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