sábado, 3 de julho de 2010

Dunga: eu, caçador de mim!

Este post não é uma crítica ao Dunga. É só uma tentativa de compartilhar algumas reflexões [suuuper psicológicas] que fiz sobre seu comportamento à frente da seleção brasileira de futebol.

Já faz algum tempo que ouço coisas como “Dunga não é só grosseiro e mal educado, é teimoso também. Mesmo contra todos, ele convocou jogadores que não tinham condições de participar de uma Copa. Morreu abraçado a uma seleção que convocou de forma arbitrária e autoritária.” Nunca entendi direito estes comentários. Talvez porque eu não entenda nada de futebol mesmo [isso é fato]. O fato é que sempre ficava pensando “poxa, se o cara é o técnico, ele é quem tem que escolher quem vai compor sua seleção”. Só que acho que comecei a compreender um pouco da história.

Estou começando a achar que há sim teimosia e agressividade. Mas para mim, estes comportamentos [atitudes, ações, reações etc.] têm muito a ver com a forma que determinadas pessoas têm de reagir a uma história de rejeição e de desvalorização.

Dunga, um sujeito marcado pela rejeição que sofrera quando era jogador de futebol [não me digam que esqueceram o quanto ele foi severamente criticado pela imprensa – considerado o responsável pela decadência do “futebol-arte”, fundador da Era Dunga: a era do futebol feio e duro – quando era jogador!!!], parece fazer de cada ato uma tentativa de demonstrar alguma coisa... Talvez seu valor, talvez seu rancor... não sei!

A vida me fez assim
Doce ou atroz
Manso ou feroz
Eu caçador de mim


Conheço um monte de gente assim. Em função de discriminações sofridas, essas pessoas frequentemente assumem posturas de ataque [ou de defesa?]. Tudo e quase todos ao seu redor são vistos como potenciais críticos, agentes de discriminação e de desvalorização. Por outro lado, essas pessoas formam um grupo, muito restrito, ao qual é dirigida a mais alta lealdade, proteção e confiança. As críticas a esse grupo ou a algum de seus membros são automaticamente entendidas como uma reprodução do passado. E defender aquele membro passa a ser visto como uma forma de reverter a rejeição sofrida ou impedir que se repita. As respostas agressivas, as ironias são estratégias de defesa [ou ataque?]. O mundo se transforma em um campo de caça, onde há alvos bem definidos e um monte de outros que devem ser “caçados” antes que se tornem “bem definidos”. Bala perdida é o que não falta.

Nada a temer senão o correr da luta
Nada a fazer senão esquecer o medo
Abrir o peito a força, numa procura
Fugir às armadilhas da mata escura

Não estou defendendo os jornalistas e comentaristas de futebol, hein?! Pelamoordedeus!!! Definitivamente, são pouquíssimos, eu diria raríssimos, os “profissionais” da comunicação de massa que têm o meu respeito e admiração.
E, de forma alguma, tenho algo contra o Dunga, nem contra seu jeito de jogar futebol ou de liderar equipes de futebol... até por que eu não entendo de futebol! Só acho que ele deveria procurar resolver sentimentos que possam ser responsáveis por transformar o mundo em adversário, ou melhor, em inimigo. É preciso uma dose mínima de controle emocional e capacidade de aceitar críticas para estar à frente da seleção de futebol de um país em que este esporte tem papel fundamental.
Para finalizar, o pior é que, no fundo, e na superfície também, quem mais sofre com tudo isso é o caçador.

Longe se vai
Sonhando demais
Mas onde se chega assim
Vou descobrir
O que me faz sentir
Eu, caçador de mim

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