sexta-feira, 5 de novembro de 2010

35 milhões X 32 milhões

Não estou com muito tempo para escrever aqui, apesar de ter tido vontade e até algumas ideias. Mas as imagens abaixo merecem ficar registradas no meu blog. Quando eu tiver mais tempo, quero pensar sobre estes textos multimodais [verbais e imagéticos, neste caso] e sobre a forma como determinados brasileiros são representados.

Um deles é a capa da Revista Veja de agosto/2006. O outro, a capa da Revista Carta Capital de novembro/2010. Revistas cujos "perfis jornalísticos" me parecem diametralmente opostos. A Veja, para mim, é um catálogo de produtos. E não é uma metáfora! 52% das páginas da Veja, pelas quais as pessoas pagam, são de publicidade. Mais da metade da revista. Gosto da Carta Capital. Declarada minha parcialidade, declaro agora minha... ehhh... inquietação quanto às duas capas.














Veja [eleições de 2006] – associado à imagem de uma moça negra está o texto-legenda: “Nordestina, 27 anos, educação média, 450 reais por mês, Gilmara Cerqueira retrata o eleitor que será o fiel da balança em outubro”.

Carta Capital [eleições de 2010] – associado à imagem de um senhor negro lê-se o texto-legenda: “Estimulada por uma campanha raivosa, parte do eleitorado da oposição declara ódio aos nordestinos. A quem interessa dividir o Brasil?”

Segundo o Censo Demográfico de 2000, nordeste e sudeste são as duas regiões do Brasil com maiores populações negras [pardas incluídas]. No nordeste, há 35 milhões de negros. No sudeste, 32 milhões. Até onde eu sei, os votos dos eleitores nordestinos têm o mesmo peso dos do sudeste. Ou não? Se a população de negros do sudeste é muito próxima à do nordeste, então... ué?!

Minha inquietação: por que, sempre que se quer representar os eleitores nordestinos – para o bem ou para o mal [ressalto que esse “bem” definitivamente não tem a ver com o jingle do Serra] –, usa-se a imagem de uma pessoa negra? Em outras palavras, por que o eleitor nordestino, considerado ignorante por um grupo que se acha branquinho, bonitinho e do bemzinho [agora tem a ver com o Serra!], em geral do sudeste, é representado por negros? O que o negro significa – de ruim, claro! – para alguns segmentos da sociedade brasileira que o faz ser escolhido sempre que se quer vincular nordeste à ignorância política?

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