quinta-feira, 24 de junho de 2010

Comentários comentados [1]

Vou comentar alguns comentários que o blog recebeu:

O Antony começa um de seus comentários dizendo que concorda “plenamente” comigo e que “deveriam ter tido mais cuidado [referindo-se a programas que tratem da beleza na Copa] para não ferir suscetibilidades”.

Uma das acepções da palavra suscetibilidade, de acordo com o Dicionário Houaiss, é: a “disposição ou tendência para se ofender e se ressentir com (algo, geralmente sem importância). Pela escolha lexical do nosso amigo Antony, a gente já pode antecipar o quanto ele realmente “concorda plenamente” comigo, né?
E minha opinião, selecionar quem é bonito(a) “o suficiente” para merecer aparecer na televisão como símbolo de beleza terminantemente não é uma questão de “suscetibilidades”. Trata-se de uma questão de exclusão simbólica de um grupo [que não é o grupo das loiras e loiros, claro!]. Se não aparece nenhum negro no meio de tanta gente, num evento que ocorre na África, só nos “resta” concluir que não há negros bonitos. Pelo menos lá não! Pelamoordedeus!!!

Adotar a perspectiva da inclusão/exclusão simbólica já me faz ter que discordar plenamente de você, caro Antony, pois, nessa perspectiva, aparecer na televisão não é uma questão de ser colocado em evidência e ser escolhido ideologicamente como símbolo de algo. Vale lembrar que esse “algo” é uma criação. Não há nada de natural, apesar de ser ideologicamente consensual, em ser bonito o suficiente para aparecer na telinha. Politicamente correto não é criar um time artificial de “moças bonitas”. Politicamente correto é aceitar que essa criação por si só é artificial, é ter consciência que as pessoas que ali aparecem representam grupos bem definidos e perceber que estar na telinha é ter poder, é ter algumas de suas "características" legitimadas. Pelamoordedeus, hipocrisia é se permitir pensar que essa seleção de mulheres e homens lindos serve apenas para agradar e corresponder ao "gosto natural" das pessoas.

Antony diz acreditar “que a seleção realizada é mais próxima da realidade dos gostos, se não confessados, pelo menos professados, pela maioria da população brasileira” Antony só não diz, e nem eu esperaria que o fizesse, que “a realidade dos gostos” é uma realidade cultural, histórica, social e ideologicamente criada e sustentada, em nossa sociedade, principalmente pela TV. E, para finalizar seu comentário “plenamente concordante” comigo, ele me pede “paciência...” Paciência, meu caro, é o que eu menos tenho com este tipo de pensamento e reação [ou seja, o cara diz concordar que a seleção de beldades foi tendenciosa e pouco cuidadosa, mas, por outro lado, não dá para fazer nada, já que o gosto natural das pessoas é esse mesmo.] Paciência??? Paciência peço eu!!!!!!

Tenho que confessar que para uma coisa o comentário do nosso grande amigo e plenamente concordante Antony me serviu: analisar didaticamente, com meus alunos, os modos de operação da ideologia no discurso de pessoas que parecem concordar plenamente, mas... finalizam o enunciado suplicando por paciência. Mooorro de dó!!!!!

Gente, lembrem-se que eu não sou [ou ainda não sou] uma florzinha sensível, meiga e paciente... Eu sou a Marcia, aquela grosseira e metida e mandona. [sintam-se livres para acrescentar outros adjetivos, ok? - óbvio que não serão publicados... hahaha]

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